O barco

Eu canto, e o vento leva a minha voz para o alto da montanha.

E lá em cima, sob a sombra de uma árvore, há um homem sonhando com o barco que perdeu no mar.
A culpa foi das tempestades — mas ele ainda culpa o mar.

Agora ele vive no alto da montanha, longe do mar, com medo de nadar.
Sua viagem o levaria de volta para casa, onde sua querida esposa o esperava.
Ela perdeu a fé, desistiu de esperá-lo, e antes de sumir, chorou sobre as águas e se ajoelhou no mar.
Ela questionou Deus, as tempestades, e prometeu nunca mais amar.

O medo os separou. E a minha voz, o vento levou…

O sol chegou, e o mar se acalmou.
O homem desceu do alto da montanha.
O vento e o mar trouxeram o seu barco.
E lá foi ele — remando sobre as lágrimas da esposa.

Ao reencontrá-la, ela pulou em seus braços, e ele disse:

“Ouvi uma voz que o vento trouxe aos meus ouvidos.
Eu sonhava com o meu pequeno barco, perdido no oceano das suas lágrimas.
E ele prometia que iria me encontrar.
Deus é tudo — ele foi o canto, o vento, o barco, o mar, o sonho, as lágrimas…
tudo isso para ensinar o quão importante é acreditar.”



 

✦ Entrelinhas desbotadas ✦

Este texto constrói uma narrativa simbólica sobre separação, medo e reconciliação, com forte carga emocional e espiritual.
A imagem do homem no alto da montanha representa o afastamento — não apenas físico, mas emocional e espiritual. Ele se isola por medo, traumatizado pela tempestade, projetando a culpa no mar (a vida, o destino).
A esposa, deixada para trás, vive o luto da espera. Ela representa o abandono e a perda de fé, chegando ao ponto de renunciar ao amor e desafiar o divino.
A voz do eu lírico funciona como elemento místico de reconexão: o canto levado pelo vento inicia um processo de cura, reacende a lembrança e reabre o caminho.
O retorno do homem simboliza a superação do medo. Quando ele desce da montanha e reencontra o mar calmo, entende que foi Deus — ou a força da fé — que guiou tudo: desde o vento que trouxe a voz, até o reencontro.

No fim, o texto fala sobre o tempo, o amor e a fé — e como até a distância e a dor podem servir de ponte para a esperança.



#TextosAutorais #ReflexõesDaVida #SentimentosEmPalavras #CadernosDesbotados 

Comentários