Enquanto eu aguardo
Escrevi esse texto na recepção de um hospital, bem cedo, enquanto esperava minha mãe terminar a fisioterapia. Estava tudo bem, mas o sono, o silêncio e o tempo que parecia se esticar me fizeram escrever...
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Muito bem... deixe-me pensar.
Afinal, o que estou fazendo aqui?
Estou sentada, aguardando. Pacientemente esperando.
Nas cadeiras deste hospital, pacientemente esperando.
Sou paciente — mas não a paciente. Estou apenas fazendo companhia.
Escreva, escreva, escreva...
Vamos, pode escrever mais devagar.
Capriche na caligrafia.
Ainda faltam algumas horas de espera.
Estou bocejando, com sono,
mas jamais pediria uma cama aqui.
Penso, penso, penso...
Vamos lá, pense em algo bom pra escrever.
O tempo passa — e por agora, é só isso que importa.
Em outro lugar, na vida de outra pessoa,
alguém deseja que o tempo desacelere,
porque está vivendo a grande festa da sua vida.
Enquanto eu aguardo...
✦ Entrelinhas desbotadas ✦
Este texto foi escrito em um momento real de espera, e usa a observação do cotidiano para refletir sobre o tempo e o contraste entre experiências humanas.
A repetição (“pacientemente esperando”, “escreva, escreva, escreva...”) marca a lentidão e o tédio do momento — um estado de presença forçada, onde o pensamento se arrasta.
A frase “sou paciente — mas não a paciente” é um jogo de palavras que reforça o papel de quem está ali apenas acompanhando, mas ainda assim afetada pela espera.
A tentativa de escrever, de pensar, de se manter ativa, é uma forma de combater a passividade daquele ambiente.
A virada acontece quando o eu lírico percebe que, ao mesmo tempo em que está ali parada, alguém em outro lugar vive uma grande alegria. Esse contraste mostra a relatividade do tempo e da experiência humana.
O texto é um lembrete de que até os momentos mais simples, entediantes ou solitários, fazem parte da grande coreografia da vida — e merecem ser observados com carinho.
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