Rosto nas nuvens

Às vezes a fé não grita.
Não levanta as mãos, não prega em voz alta,
não chama ninguém para ver.
Às vezes ela só respira quieta,
como uma brasa pequena guardada dentro do peito,
ela é discreta, mas impossível de apagar.

A minha é assim.
Não faço sermões, não aponto caminhos,
não digo o que é certo para ninguém.
Apenas acredito,
no meu jeito simples, imperfeito e verdadeiro.
Converso baixinho com Jesus,
escuto canções que me atravessam,
e deixo que Ele me visite quando quiser,
mesmo que ninguém veja.

Mas cada fé encontra seu próprio volume.
Há quem celebre em voz alta,
quem cante com força,
quem abra os braços para o mundo e pregue com coragem.
E acho isso lindo.
Faz falta no mundo quem acredita assim,
com alegria que transborda.

Só que existe um lugar para o silêncio também.
E não há nada de errado nele.
Deus entende todas as linguagens:
as que ecoam longe
e as que só se ouvem por dentro.

Numa noite dessas, quando o coração estava mais acordado que o corpo,
fui até a varanda olhar o céu.
As nuvens se moviam como véus brancos,
e no meio da escuridão surgiu um desenho.

Um rosto.
Aquele mesmo que repousa no Sudário.
Triste, compassivo, antigo,
como quem observa o mundo com amor e cansaço ao mesmo tempo.
Por um instante tentei fotografar,
mas o celular travou,
como se dissesse:
“Isso não é para guardar em tela.
É para guardar em ti.”

E eu guardei.
Não como prova,
mas como quem recebe um segredo.

Depois, contei o sonho.
A reação que veio não foi a que eu esperava,
mas percebi que cada coração tem seu próprio jeito de lidar com o sagrado.
Tem gente que responde com emoção.
Tem gente que responde com cautela.
Tem gente que responde em silêncio,
porque também já foi ferida pela fé dos outros
ou porque prefere sentir do que falar.

Mesmo assim, continuo acreditando.
A fé não precisa ser barulhenta para ser bonita,
nem silenciosa para ser profunda.
Ela só precisa ser sincera.

E quando o céu decide falar desse jeito,
no risco de uma nuvem,
no eco suave de um sonho,
no rosto que aparece e se desfaz,
a gente aprende que Deus habita todos os tons.
Do grito ao sussurro.

E que o sussurro, às vezes,
é apenas o jeito dEle dizer:
“Chega mais perto,
quero falar contigo.”



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