O presente do céu
Hoje foi um dos dias mais felizes da minha vida.
“Um dos”, porque eu sei que a vida ainda guarda muitos dias assim, dias que brilham de um jeito diferente, como estrelas que se destacam no mesmo céu.
Fui acordada de repente, com vozes animadas e um canto conhecido.
“Parabéns pra você…” , era minha mãe e meu irmão caçula, o Arthur.
Abri os olhos confusa.
“Mas… o meu aniversário já passou”, pensei.
Por um instante, achei que estava sonhando.
Eles riam, cheios de energia, e antes que eu pudesse entender, arrancaram minha coberta.
“Ei! Calma, eu tô só de roupão!” , protestei, entre risadas e sustos.
Mas nada os detinha.
Arthur me puxava pelo braço, minha mãe me empurrava com carinho, e os dois me arrastaram até a sala como quem carrega um segredo prestes a nascer.
Sobre a mesa, uma caixa enorme.
“Abra, é sua”, disse Arthur, entregando-me um estilete.
Fiquei parada por um instante, tentando adivinhar o que poderia haver ali dentro.
Comecei a cortar a fita devagar, enquanto via os dois se contorcendo de ansiedade como crianças prestes a ver a reação de quem amam.
E então, sob a primeira aba da caixa, apareceu uma palavra que me fez prender o fôlego:
“Telescope.”
Meu coração disparou.
Olhei para o Arthur e ele já sorria, com aquele olhar de quem sabe o tamanho do presente que está oferecendo.
Corri e o abracei forte.
Foi um abraço com o coração batendo alto dos dois lados, como se nossas alegrias tivessem se encontrado no meio do peito.
Comecei a rir, emocionada, e logo meu pai se juntou para montar o telescópio.
Enquanto encaixávamos as peças, fui lembrando dos pequenos sinais dos últimos dias, aqueles que, agora, faziam todo sentido.
Minha mãe repetia, desde a semana passada:
“Ah, o dia 6 vai ser muito lindo.”
E eu perguntava:
“Mas por quê, mãe?”
Ela respondia sorrindo:
“Porque vamos no Caminho das Luzes.”
Achei curioso tanto entusiasmo por um evento que acontece toda quinta-feira, mas deixei passar.
O Arthur também andava diferente.
Falava toda hora sobre o número 6.
“Sabia que é o seu número favorito?”, ele dizia.
E eu respondia:
“Sim, o 6 é um número divino.”
Ele apenas sorria, misterioso.
Ontem, quando voltávamos do mercado, subindo as escadas do prédio, ele perguntou de repente:
“Ei, Carol, como começa Yellow, do Coldplay?”
Eu cantei, rindo:
‘Look at the stars, look how they shine for you…’
E ele respondeu:
“Guarda essa música na mente.”
A mãe completou:
“É porque amanhã vai ser muito lindo.”
E hoje eu entendi tudo.
O atraso da entrega, o segredo, a música, o número.
Tudo fazia parte de uma constelação que eles desenharam pra mim, com amor e paciência.
O telescópio chegou hoje, e o dia está perfeito.
O sol brilha lá fora, e a noite promete uma lua cheia, como se o próprio universo tivesse decidido participar da surpresa.
Enquanto olho o céu, penso no quanto tudo foi delicadamente planejado.
Ganhei um telescópio, sim.
Mas o que realmente recebi foi algo maior, ganhei um gesto de amor tão imenso quanto o céu que agora posso explorar.
Um lembrete de que ainda existem pessoas que nos observam com o mesmo brilho com que olhamos as estrelas.
E que, quando o amor é verdadeiro, ele sempre encontra um jeito de se tornar luz.
Hoje, o céu me pertence um pouquinho.
E cada estrela que eu observar daqui pra frente vai carregar o reflexo do abraço do meu irmão, o sorriso da minha mãe e a cumplicidade do meu pai.
Look at the stars… look how they shine for me.
Llindooo
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