O fruto do vazio
Lá estava eu, sozinha, sentada em um frágil trono de areia, esperando o momento em que ele se desmancharia e se juntaria aos outros grãos daquele deserto negro.
Não havia vento, nuvens ou estrelas. O céu era uma tela em branco, e eu ficava ali, observando o contraste entre o preto e o branco.
Eu não me lembrava de nada, era como se a vida não tivesse propósito.
Aquele mundo era vazio… Sim, não havia fome, nem guerras, nem morte. Mas também não havia felicidade, memórias ou amor.
Não existia perigo, então tampouco havia desafios, e sem desafios não havia razão para evoluir. Eu sobreviveria de qualquer forma, mas… pra quê?
Levantei-me do trono de areia e comecei a caminhar pelo vasto espaço vazio.
Eu não sabia o que era a vida, mas sentia algo. Não havia ninguém, nada, para me explicar.
Sem palavras, sem alimento… um mundo estranho. Inútil.
Vazio. Era isso. Era o que eu sentia. Mas como explicar?
Então, da areia negra, como um milagre, surgiu uma árvore. Bela, trazendo cores que eu jamais havia visto.
E com ela, senti algo diferente. Amor.
Dela brotou um fruto que brilhava de forma única. Quando o toquei, um arrepio percorreu minha pele.
Então, pela primeira vez, vibrações tomaram meus ouvidos: o som. Uma voz suave me pedia para provar aquele fruto.
Dei uma mordida. E o mundo explodiu em cores, luzes, sensações.
O céu ganhou formas. Estrelas, arco-íris… tanta coisa! Eu nem sabia como tudo podia caber ali.
Então abri os olhos.
Estava aqui, na Terra.
Por um instante, o vazio voltou a me rondar. Mas a chuva na janela me trouxe de volta.
Sim. Existe vida lá fora.
E como é bom ver as cores. Sentir o vento.
Este mundo não é inútil.
#CadernosDesbotados #Entrelinhas #PoesiaVisual #Vazio #Silêncio #Metáforas #ArtePoética

Comentários
Postar um comentário