Quero sentir o natal outra vez

Já não é de hoje que algo se perdeu nas luzes da cidade.
O Natal Luz, que um dia fez os olhos brilharem, de crianças, turistas e moradores, parece ter ficado preso no tempo, mas não do jeito bom.

Hoje ele ainda tem nome. Ainda tem fama. Mas e a alma?
Aquela emoção que fazia o coração acelerar ao entardecer, esperando o acendimento, esperando a surpresa?

Virou só um espetáculo.
E o espetáculo virou só a cobrança.
Ingressos cada vez mais caros, e a cada ano menos encanto.

As ruas continuam enfeitadas, sim, mas com enfeites repetidos, reaproveitados, já sem surpresa.
E o som... Cadê a música natalina espalhada pelas ruas como um vento suave, um convite ao sonho?
Hoje toca uma mesma canção de marketing, repetida à exaustão, como um anúncio disfarçado de trilha sonora.

A igreja matriz, que deveria ser uma estrela central, repousa apagada do lado de fora.
A praça à frente, tão simbólica, poderia brilhar mais.
A Major Nicoletti, com sua beleza natural, clama por mais luz, mais cor, mais presença.

Já pensou? Um coral todo domingo, cantando ao vivo, com vozes ecoando entre as árvores e o friozinho da serra?
Seria lindo.

E o palco no Parque Carrieri?
Ele já foi cenário de emoções. Será que ainda vai voltar a ser?
O acendimento, que um dia foi arrebatador, hoje acontece sem surpresa, sem clímax, sem arrepio.
A cidade acende, sim, mas parece não despertar.
Cadê a dança das fadas, as escaladas na fachada da igreja, a emoção genuína nos rostos?

Faltam músicas que lembrem o Natal de verdade.
Faltam letras que falem de amor, de fé, de nascimento.
Falta Jesus... e isso deveria ser essencial.

Não queremos apenas luzes. Queremos calor.
Não queremos apenas ingressos. Queremos lembranças.
Queremos a magia que atravessa o peito e faz os olhos se encherem de lágrimas sem aviso.

Falta magia. Falta espiritualidade. Falta banda tocando ao vivo nas ruas, espalhando notas de alegria.
Falta a empolgação de antes. Falta o frio na barriga. Falta o suspiro no fim da noite.

Eu não quero andar por Gramado sentindo que estou dentro de uma propaganda.
Quero caminhar por um conto de Natal.

Real.
Belo.
Feito com alma.

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