Entre flores e ruídos
Acordei contente. Sonhei que caminhava por um belo campo de flores.
Sentia o cheiro da grama e das pétalas, a brisa tocando meus braços, e sussurros de amor, os anjos passando pelos meus cabelos.
Eu poderia fechar os olhos e tentar voltar àquele lugar, mas o compromisso gritava mais alto.
Tomei meu café e corri para o banho. A água quente me lembrava o conforto daquele sonho, e como tudo era calmo por lá.
Mas bateram na porta e pediram que eu me apressasse. Saí correndo para terminar de me arrumar.
Fui me maquiando com delicadeza, sentindo o toque suave dos pincéis e seu perfume leve.
Ao olhar pela janela, notei o céu, estava tão bonito que parecia um pedaço do sonho ainda preso à manhã.
Vesti minha roupa, borrifei o perfume. Tudo estava leve, quieto, calmo...
Meu pai já estava de terno, parado na porta com a mochila e a caixa de som.
“O trânsito está terrível hoje!” — só essa frase já fez minha barriga vibrar de nervosismo. Mas respirei fundo e me acalmei.
O motorista chegou. Fomos até o hotel onde iríamos nos apresentar, um lugar lindo.
Fomos recebidos com cortesia, serviram água. Eu ainda não me acostumei com tanta gentileza.
Ligamos os equipamentos, testamos o piano, o microfone. Tudo pronto. Começamos.
Nos primeiros minutos, eu sentia cada nota no ar. A música atravessava meu peito e voava...
Tudo estava leve, calmo, perfeito.
Mas, pouco a pouco, as pessoas foram chegando. As conversas se elevaram, uma criança ria, outra chorava, outra gritava...
A música já não atravessava mais meu peito, ela batia e voltava na minha cabeça.
Ainda assim, mantive a calma. Bebi um pouco d’água. Aumentei o volume da caixa.
Por mais que minha voz tenha subido, não havia equilíbrio. As conversas subiam ainda mais.
Vozes, taças, passos, gritos, risadas... tudo parecia uma enorme bola de pedra rolando em minha direção.
Então fechei os olhos. Lembrei daquele lugar.
Meu ouvido se fechou para o mundo. Só ouvia o piano.
O tempo passou. A apresentação terminou. Aplausos.
Agora estou aqui. Tudo está leve. Quieto. Calmo.
Perfeito.
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Que forma linda de contar o caos que foi aquele dia. Vamos levar fones da próxima vez para ficarmos no mundo de Nárnia
ResponderExcluirObrigada, pai! Mesmo no meio do caos, teve poesia.
ExcluirNa próxima, fones e coragem... porque Nárnia parece mais tranquila que o centro de Gramado num sábado. kkkk