Era só um lápis e muito papel

Eu me lembro como se fosse ontem:
quando nos sentávamos à mesa, com um lápis e muito papel,
e criávamos histórias, histórias que talvez ninguém se importasse.

Elas não tinham roteiro, muito menos faziam sentido,
mas, de alguma forma, criávamos um momento especial:
um passatempo, um filme novo.
Buscávamos algo... e a gente encontrava.

Em questão de minutos, já estávamos em uma nova brincadeira.
Podia ser se enrolar em um lençol e virar um mago, ou uma princesa,
muitas vezes, um super-herói.

Podia ser pegar colchões e escorregar pelas escadas de casa,
correndo depois para limpar tudo... ou ao menos achando que limpamos,
antes dos pais chegarem e descobrirem a artimanha.

Ou por que não escalar paredes, só porque era divertido?
De repente, estávamos no banheiro, jogando água e sabão por todo lado,
só para escorregar de barriga, fingindo ser sereias.

A criatividade corria solta.
E era só a gente. Ninguém mais.

Não tinha um dia sequer em que a gente não inventasse alguma coisa maluca.
Mesmo quando repetíamos, parecia tudo novo de novo,
nunca ficávamos entediados.

E no fim da noite, deitados na cama,
ainda fingíamos que costurávamos vestidos no ar.
Tudo fruto da nossa imaginação.

“Me passe a agulha.”
“Aqui está, senhora.”

Lembro que o nosso maior desafio era ver
se conseguiríamos ficar acordados até dar meia-noite.
O horário parecia mágico.
"Meia-noite?
Passamos acordados de um dia para o outro? UAU!"

Mas a gente nunca conseguia.
Cansávamos e dormíamos.

Hoje, estamos cansados demais para brincar,
mas com a cabeça ativa demais para conseguir dormir.
Buscamos entretenimento nos filmes que parecem todos iguais,
nos passeios, na comida...

Mas, ainda assim, quando estamos juntos,
em qualquer esquina,
em qualquer mesa velha,
com um lápis e muito papel,
se sentarmos e nos acalmarmos um pouco,
a gente volta no tempo 
onde o dia parecia nunca acabar.

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