ouvintes no céu

 Às vezes me pego sozinha com o rosto voltado para o alto, como quem conversa com alguém que não está visível - mas está presente.

Conversar com as estrelas sempre foi natural pra mim. Mesmo nos dias mais frios, me agasalho, vou até a varanda e fico lá, olhando para elas.
Nem que seja só para dizer o quanto são bonitas, agradecer pelo meu dia… ou perguntar como elas estão. Sim, eu realmente pergunto. E, por algum motivo, sinto que elas respondem.

Minha mãe já percebeu esse hábito. E um dia, num desses papos que só mães têm, ela me contou:
– "Seu avô também fazia isso... Saía e ficava conversando com o céu."

Ela não sabia o que ele dizia, e talvez nunca saiba. Mas isso ficou em mim como um sussurro que vem de longe - como se esse costume não fosse só meu. Como se fosse herdado.
Ele não me ensinou. Não me chamou pra olhar o céu.
Mas, de alguma forma, estou aqui... fazendo o mesmo.
Falando com o silêncio do universo e esperando que, no meio dele, alguma consciência me ouça.

Já houve momentos em que pedi para ver algo. Uma luz. Uma nave. Um sinal.
E teve uma noite… aquela noite...
Foi diferente. Intensa.
Me vi num lugar de metal escuro, numa rampa muito inclinada, com medo de escorregar.
Havia uma porta, e atrás dela, duas figuras humanas em macacões laranja. Falaram comigo sem palavras. Coletaram uma pequena amostra do meu sangue.
E quando me afastei, com medo, perguntaram com gentileza: “Tem certeza que não quer continuar?”
Respondi: “Sim, tenho certeza.”
E naquele instante… tudo foi embora.
O medo. O peso. A presença.

Mas o céu ficou.

E desde então, continuo voltando à varanda.
Continuo falando com as estrelas.
Não porque espero uma nave.
Mas porque, no fundo, sei que alguém, ou algo, está me ouvindo.

Talvez sejam meus ancestrais.
Talvez sejam memórias que atravessam o sangue.
Ou talvez… sejam só as estrelas.
Que ouvem mais do que a gente imagina.

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