Entre o grito e o silêncio

Ainda era noite quando fui arrastada para dentro de mim mesma.

Me vi presa em um corpo que não respondia,
em um mundo que parecia o meu,
mas sussurrava com a voz do medo.

Tentei gritar, mas a boca não obedecia.
A mandíbula doía.
A alma tremia.
E o que saía de mim eram apenas ruídos sufocados,
como se até o ar tivesse medo de me escutar.

Meus pais estavam lá.
Ou talvez fosse a ideia deles,
a memória do amor deles tentando me alcançar
num espaço onde nem o tempo fazia sentido.

Tentei protegê-la — minha mãe.
Mas quem se moveu não fui eu.
Meu corpo era um teatro assombrado,
e eu, a plateia desesperada,
presa no fundo dos meus próprios olhos.

Gritei por Deus.
Ou tentei.
E quando a escuridão parecia se fechar de vez,
um estalo —
um tapa, uma libertação, uma luz.

Um anjo, de pedra e névoa,
me arrancou da noite com um gesto seco.
E acordei.
Ofegante. Chorando.
Com a barriga vibrando de medo e alívio.

Mas eu acordei.

Agora o céu começa a clarear,
e com ele vem a certeza:
o sol sempre volta,
e eu também.




✦Entrelinhas Desbotadas

Este não é um conto, nem um texto simbólico. É o relato real de uma madrugada em que fui arrastada para dentro de um lugar escuro, silencioso e opressor.

O nome técnico é paralisia do sono. Mas quem já viveu sabe: é mais do que um fenômeno neurológico. É uma batalha íntima, entre o corpo que não responde e a mente que grita por socorro.
Aqui, as palavras tentam traduzir a angústia de estar presa dentro de si mesma.
E ao escrever, trago à tona uma certeza: estou de volta.
E o sol nasceu.



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