A última estação

Em algum lugar congelado, sem frutos, sem água, onde os animais dormiam e tudo parecia uma grande folha em branco, caminhava uma jovem garota.

Seus cabelos, escuros, brilhavam como uma noite estrelada. Sua pele era pálida como a neve que caía sem cessar. Seus lábios, cortados pelo gelo, tremiam, e seu casaco reluzia como cristais.
Ela estava perdida, sem rumo, sozinha e sem esperança no amanhã.

O único sonho que resistia em sua mente era o do sol surgindo e levando embora o frio — os raios aquecendo sua pele, derretendo as lágrimas, a primavera surgindo, as cores voltando...

Mas bastava um piscar de olhos, e ela voltava à realidade: o mundo congelado onde o tempo parecia não passar.

Em sua cama, numa velha cabana abandonada no meio da floresta, sentia uma presença sufocante. Chorava, chorava... mas aquela sensação não passava.

— Por favor, vá embora...
— Deus, me ajude! — era o que mais clamava.

E então, no meio da luta e do cansaço mental, adormeceu.

No outro dia, tudo outra vez. A caminhada no vazio. A solidão. O frio.

Mas eis que surge um pássaro verde, colorindo toda aquela tela em branco.

Os olhos estrelados da garota brilharam ainda mais. Ela permaneceu estática, acompanhando cada rasante daquele pássaro.

E, pela primeira vez, algo dentro dela aqueceu.

Uma lágrima escorreu — quente, confortável.

Ela suspirou, fechou os olhos e ouviu um sussurro… como se anjos lhe falassem.

Então, como uma baforada quente, o gelo começou a derreter.

As flores surgiram.
Tudo ganhou cor e som.

Ela viu a vida nascer diante dos seus olhos.
Suas lágrimas escorriam, lavando embora toda a tristeza.

A pintura estava finalizada.


                               ✦Entrelinhas Desbotadas✦

Às vezes, o inverno que enfrentamos não está do lado de fora — mas dentro de nós.
Há dias em que tudo parece uma tela em branco, silenciosa e sem cor.
Dias em que o mundo congela e até o tempo hesita.
Mas basta um gesto, uma presença, um “pássaro verde” — algo pequeno, mas vivo — para recomeçar o degelo.
A esperança nem sempre vem como um sol radiante.
Às vezes, ela chega como um sussurro quente em meio ao frio.
E é aí que a vida — quieta, mas paciente — começa a pintar de novo.


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