A procissão dos passos
Hoje, sexta-feira santa, acordei cedo com uma vontade intensa de participar da Procissão dos Passos, que aconteceria às 20h, na Avenida Borges de Medeiros. Comentei com a minha mãe, e para minha alegria, ela também se animou.
O dia amanheceu lindo: céu azul, temperatura perfeita — nem calor, nem frio. Tudo parecia convidar para um final de tarde especial.
Por volta das 19h30, enquanto nos preparávamos para sair, o tempo mudou de repente. Uma chuva forte despencou do céu, trazendo trovões e até granizo. O barulho era tão intenso que pensei: "Será que a procissão vai mesmo acontecer?"
Mas, exatamente às 20h, como num milagre silencioso, a chuva cessou. Nenhum som, nenhum vestígio de tempestade. Apenas um silêncio imenso preenchendo a noite. Calçamos os sapatos e fomos.
Ao chegar, fiquei sem palavras.
Poderia dizer que era apenas uma encenação, uma bela atuação... mas não foi.
O que vi e senti foi muito mais profundo. O sofrimento de Jesus, as tochas de fogo, o cheiro denso do incenso — tudo parecia atravessar a pele e tocar a alma.
A tristeza, o medo, a revolta... os tambores vibravam dentro de mim, como se quisessem arrancar lágrimas escondidas.
Vi crianças emocionadas, em silêncio. Outras choravam. Uma, em especial, ria e simulava estar numa cruz, e aquilo me lembrou da estranheza do mundo em que vivemos.
No final, juntamo-nos à procissão e seguimos em direção à igreja, atravessando a multidão de fiéis. O padre nos esperava com palavras sobre o significado daquela noite.
E assim, com os pés já calejados, voltamos para casa. No peito, o eco da fé, do silêncio e de algo que é difícil de descrever — mas impossível de esquecer.
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