A casa que não existe mais

 Ao fechar os olhos, ainda consigo ver com nitidez aquele lugar.

Talvez porque eu realmente estive lá.

Talvez porque continue sonhando com ele.


Lembro das brincadeiras, das marcas de pé no sofá,

dos rabiscos na parede, da janela quebrada,

do ranger das escadas.


Lembro de quando eu não queria dormir.

Lembro de quando eu não queria acordar.


Havia um saco de brinquedos guardado num quartinho nos fundos da casa.

E, por alguma razão, era lá que eu mais queria estar.


Com o tempo, as cores foram desbotando.

Se eu pudesse corrigir o mundo como quem edita uma foto,

eu aumentaria a saturação. Só um pouco.

Só pra ficar mais próximo daquilo que ainda pulsa em mim.


Mas a vida segue.

E aquele lugar ficou para trás.


As memórias ficam — e talvez isso seja o mais importante.

Aprender que todos os dias são feitos de um grande papel em branco.

E que a gente pode sempre continuar o capítulo,

iniciar uma nova história,

ou, ao menos, colorir um desenho que ficou em preto e branco.





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